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Alimentos "Zero"

Todos nós conhecemos uma das principais premissas na perda de peso: coma menos e gaste mais.

Assim, tentando reduzir a ingestão energética, muitas pessoas procuram no mercado alternativas aos seus produtos alimentares preferidos, sejam eles bolachas, chocolates, iogurtes, refrigerantes, snacks, molhos, entre outros. A indústria viu então nesta procura uma oportunidade de alargar o seu leque de consumidores e, desde então, que a oferta é cada vez maior, o que poderá ser uma faca de dois gumes, uma vez que nem todos estes alegados produtos ‘light’, ‘magro’, ‘diet’ ou ‘zero’ serão os mais saudáveis. 

Antes de mais, é importante distinguir estas categorias:

  1. Os produtos ‘light’ apresentam uma redução face à versão original de pelo menos 30% de um ou mais destes componentes: valor energético, gordura, hidratos de carbono, açúcar e/ou sal. 
  2. Os produtos ‘diet’/’zero’ estão isentos de um dos componentes acima referidos.
  3. Os produtos ‘magros’ apresentam uma redução no seu teor de gordura, mas não necessariamente de açúcar.

Será então sempre mais aconselhado optar por uma desta opções? 

Primeiro há que ter em conta que não é por um produto ter ‘zero’ açúcar ou gordura, por exemplo, que terá menor valor energético. Tomando o exemplo do chocolate negro sem adição de açúcar, se o compararmos com a versão original, ambos apresentam um valor energético semelhante, superando as 500 kcal/100g, pelo que a ingestão energética será semelhante optando por qualquer uma das 2 opções, com a diferença que estaremos a evitar algumas gramas de açúcar com a versão ‘zero’. 

Assim sendo, e mesmo que as versões ‘light’/’zero’ possuam menor valor energético, é importante evitar a tendência natural para aumentar a dose, uma vez que o intuito de reduzir a ingestão energética deixará de fazer sentido. 

Por outro lado, há também que estar atento e analisar de forma crítica se a denominação ‘zero’ gordura ou açúcar fará realmente diferença no tipo de produto que estamos a comprar. Algumas gelatinas, por exemplo, referem apresentar ‘zero’ gordura, apesar da gelatina nunca ter apresentado, de forma geral, gordura na sua composição; o verdadeiro “inimigo”, o açúcar, irá continuar a estar presente, a menos que optemos pelas versões sem adição de açúcar. Assim, a correta leitura dos rótulos torna-se essencial no momento de compra para que possamos fazer escolhas mais conscientes e saudáveis.

Além do mais, a indústria alimentar quando altera o teor de um determinado componente é muitas vezes forçada a aumentar outro ingrediente para manter a palatabilidade do produto. Tomando o exemplo das bolachas ricas em fibra, ao adicionar ingredientes como o farelo, a indústria aumenta também o teor em gordura para que a bolacha não fique seca e pouco apelativa ao consumidor. Assim, um eventual benefício em ingerir mais fibra será ‘mascarado’ por uma maior ingestão de gordura, que na grande maioria das vezes não é a mais aconselhável.

Outro ponto a destacar, apesar de ser um tema controverso, é a adição de edulcorantes, como o aspartame ou a sucralose, nas versões sem adição de açúcar. Apesar da comunidade científica considerar que, em quantidades moderadas, estes componentes não terão prejuízo para a saúde, ainda não se sabe bem até que ponto a ingestão cumulativa a longo prazo não terá consequências a nível metabólico, intestinal ou mesmo nas vias cerebrais responsáveis pelo prazer/recompensa1.

Assim sendo, há que tomar alguma precaução com a quantidade de produtos deste género que consumimos e procurar por outras formas de adoçar os alimentos, como por exemplo a adição de fruta aos iogurtes naturais, que transmitirá a sensação do doce que procuramos, através de açúcares naturalmente presentes, com um importante teor de micronutrientes. E, acima de tudo, torna-se crucial habituar o palato a sabores menos doces, fazendo pequenas alterações como deixar de adicionar açúcar/adoçante ao café ou reduzir o açúcar nas preparações culinárias.

Em suma, os alimentos “zero” podem ser inseridos num regime de perda de peso, e não só, uma vez que nos permite usufruir do prazer que a alimentação nos pode dar e, ao mesmo tempo, reduz a energia proveniente dos mesmos. Como em tudo, a moderação é a peça chave, e é importante garantir um bom equilíbrio entre estes produtos e os alimentos que não necessitam de versões “zero”, como os hortícolas ou as frutas.

Tags: Beatriz Azevedo e António Pedro Mendes