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Construir programas de exercício para a prevenção de quedas em idosos

As quedas nos idosos muitas vezes são muito problemáticas quer para os próprios, quer para os seu familiares. É possível prevenir esta situação... Sabe-se que a marcha é a atividade diária com maior incidência de quedas, sendo o “tropeçar” e o “escorregar” as causas mais frequentes.

Por outro lado, vários estudos têm encontrado alterações nos padrões da marcha de idosos com historial de quedas.

Um terço das pessoas com mais de 65 anos cai pelo menos uma vez por ano e esta incidência vai aumentando com a idade. As quedas, para além das consequências físicas (hematomas, lacerações, fraturas, e até mesmo a morte) implicam igualmente consequências psicológicas (medo de cair e falta de confiança), as quais podem resultar em auto-restrições no nível de atividade física. O exercício físico tem um papel extremamente importante no transcendente desafio de desenvolver estratégias eficazes para prevenir quedas em idosos. Mas várias perguntas se podem colocar: “Qualquer tipo de exercício é eficaz?”; “Qual o tipo de exercício mais adequado?”. De acordo com a literatura, os programas que incluam exercícios de estabilidade são os que apresentam mais benefícios, e os menos indicados, ou mesmo contra-indicados, são os programas que apenas envolvam marcha. O ACSM, na sua prescrição de exercício para idosos, inclui o treino neuromotor/propriocetivo como uma ferramenta eficaz na prevenção de quedas, contudo é parco em recomendações específicas relativamente a este tipo de trabalho. Desta forma, ter apenas como referência “exercícios de estabilidade, propriocetivos ou neuromotores”, poderá ser um pouco vago na altura de selecionarmos os nossos exercícios. Por isso, há a necessidade de ir um pouco mais longe no que concerne ao conhecimento sobre o como e o porquê das quedas.

Sabe-se que a marcha é a atividade diária com maior incidência de quedas, sendo o “tropeçar” e o “escorregar” as causas mais frequentes. Por outro lado, vários estudos têm encontrado alterações nos padrões da marcha de idosos com historial de quedas. Um dos parâmetros que tem sido associado ao risco de tropeçar é a minimum toe clearance (no ciclo da marcha, corresponde à distância mínima vertical entre o solo e o dedo grande do pé, durante a fase em que o pé se encontra em fase aérea). A partir de dados obtidos no MovLab[1], verificou-se uma menor minimum toe clearance em mulheres pós menopáusicas com historial de quedas, corroborando a associação deste parâmetro ao risco de queda. A minimum toe clearance depende do controle motor das articulações da anca, joelho e tornozelo, sendo que, de acordo com estudos anteriores, esta é fundamentalmente sensível ao ângulo do tornozelo no plano sagital, e por via disso, sensível ao contole da flexão plantar e da dorsiflexão do pé. Depois, por ordem de importância, é sensível ao ângulo da anca e ao ângulo do joelho no plano sagital.

Como vimos anteriormente, o controle motor do pé é importantíssimo durante a marcha. Especificamente, durante o apoio do pé no solo é importante controlar a estabilidade e mobilidade da articulação do tornozelo de forma a: controlar o impacto do pé com o solo; conseguir que o pé funcione como membro estável; controlar a flexão plantar necessária para a fase de propulsão. Assim, alguns parâmetros biomecânicos têm sido associadas ao risco de quedas: um elevado valor da velocidade horizontal do calcanhar aquando do impacto do pé com o solo; uma diminuição da rigidez articular durante a fase em que o pé deve funcionar como membro estável; uma redução do pico máximo da potência do tornozelo na fase propulsiva.

Desta forma, um programa de prevenção de quedas deve visar vários objetivos, nomeadamente um aumento/restabelecimento da confiança e, fundamentalmente, uma melhoria do controle motor local das articulações do tornozelo, joelho e anca. Naturalmente, o controle motor global do corpo (estabilidade) é também um importante objetivo. Por isso, tal como é apontado na literatura, a inclusão de exercícios neuromotores/propriocetivos e de força são fundamentais. Relativamente ao treino propriocetivo, em http://movlab.ulusofona.pt/programpera/index.php/ exercises-programs/exercise-group/ é apresentada uma proposta de exercícios que procuram a melhoria do controle motor global e local, tendo em vista a prevenção de quedas (na Figura é apresentado um exemplo de um exercício). Esta proposta apenas inclui exercícios no plano sagital, plano onde decorrem as principais ações motoras da marcha. No entanto, o passo compensador poderá ter um papel importante numa perturbação da estabilidade, podendo e/ou tendo este que acontecer no plano frontal ou transversal. Por isso, a capacidade de reagir a uma perturbação da estabilidade é um ponto que deve ser otimizado, não só no plano sagital mas também nos restantes planos.

Por fim, na prescrição destes exercícios propriocetivos devemos ter em atenção alguns parâmetros, nomeadamente a complexidade, intensidade, volume, frequência e tempo de pausa. Partindo do princípio, óbvio, que estes exercícios devem ser realizados com ausência de fadiga, os mesmos poderão ser realizados no início da parte principal da sessão de treino. Para além disso, a complexidade do exercício deve estar adequada à capacidade do sujeito; a intensidade depedente da complexidade, sendo que o exercício deve ser realizado sem cargas adicionais; a frequência, volume e tempo de pausa, em consonância com a intensidade, poderão seguir a proposta de 2-3 vezes/semana, 3-6 séries com 3-6 repetições/exercício, e 30-40 segundos de pausa.

[1] Laboratório em que se realizam análises tridimensionais do movimento (Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias)