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Mais mães a treinar, já!

Recentemente foi publicada uma lista de benefícios estatisticamente significativos do exercício físico na gravidez baseada em RCT's e metanálises de RCT’s1, no entanto são ainda poucas as mães que treinam e que conhecem as suas vantagens.

No pós-parto, muitas das mães que treinam fazem-no porque sentem uma enorme pressão social para a recuperação da massa corporal num curto período de tempo conduzindo a treinos completamente inadequados. Precisamos agir, mas precisamos ainda mais de saber como agir. É preciso conhecimento profundo sobre esta área, estar inserido numa equipa interdisciplinar e promover corretamente a atividade física nas fases de pré e pós-parto.

Em 2016 foi criado o Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física2 tendo como documento orientador a Estratégia Nacional para a Promoção da Atividade Física, Saúde e Bem-Estar, sendo considerado um programa de saúde prioritário pela Direção-Geral de Saúde (DGS). Uma das iniciativas a destacar é a promoção da atividade física nos sistemas de saúde, uma tentativa de aproximação dos profissionais de exercício físico à medicina e saúde pública, o que é uma excelente notícia para a promoção da atividade física em mulheres nestas fases, que até então, tem sido uma área pouco valorizada ou conhecida pela classe médica, o que conduz a mães com baixos níveis de atividade física. Segundo o Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco3 (DGS), a educação para a saúde que pretende melhorar a literacia em saúde, inclui vários temas que podem ser abordados em consulta, tais como a alimentação, saúde oral, tabagismo, segurança rodoviária e a que mais interessa nesta artigo, a atividade física, um momento que seria ideal para esclarecer sobre a importância atualizada da atividade física ao longo da gravidez, mas que pela minha experiência tem sido gravemente colocada de parte conduzindo a uma percentagem elevada de mães que não treinam durante a gravidez e após o parto.

Iniciei o artigo com o novo Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física2 porque considero que este é o momento-chave para que os profissionais de exercício físico entrem em ação e sejam valorizados pelo conhecimento teórico-prático da atividade física ao longo de toda a gravidez e no período a seguir ao parto, mas sempre englobados numa equipa interdisciplinar onde cada profissional de saúde possa intervir na sua área e encaminhar para outros colegas, de forma a que a mulher possa vivenciar esta fase com o máximo de apoio possível. É fulcral que o profissional de exercício físico esteja bem atualizado e com uma base científica que suporte a sua prática para assegurar o mínimo de riscos possíveis. O Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco3 (DGS) utiliza as conhecidas guidelines do American Congress of Obstetricians and Gynecologists (US)4 e do Royal College of Obstetricians and Gynaccologists5 (UK), em especial as primeiras (ACOG) permitem-nos conhecer as indicações globais mais adequadas para estas fases, tais como quais as contraindicações absolutas e relativas para a atividade física na gravidez, as atividades seguras e menos seguras durante a gravidez, assim como as recomendações para um programa de exercício físico na gravidez e algumas indicações para o exercício físico no período de pós-parto. Em relação ao programa de exercício físico na fase de pré-parto, as indicações dizem-nos que os princípios da prescrição de treino para grávidas não diferem dos utilizados para a população em geral, no entanto é preciso conhecer, respeitar e adequar às diversas alterações fisiológicas e biomecânicas. A investigação científica de qualidade e atualizada sobre a atividade física na gravidez tem privilegiado o treino aeróbico ( ex.: caminhada, hidroginástica, bicicleta estacionária...) e os seus efeitos nas desordens hipertensivas6 que incluem a hipertensão gestacional e a pré-eclâmpsia, o risco de parto prematuro7 e a diabetes gestacional8 mostrando efeitos benéficos significativos. Contudo, o treino de resistência muscular carece de mais e melhor investigação para que a elaboração do plano de treino seja mais adequado e os profissionais de exercício físico possam atuar com maior segurança.

No pós-parto, com bases nas informações partilhadas entre os vários profissionais de saúde que deveriam fazer parte da equipa que acompanha esta fase ( médicos, enfermeiros, fisioterapeutas de reabilitação pélvica, profissionais de exercício físico...), o programa de treino será adaptado a cada situação, tendo como objetivos gerais, a reeducação postural, a normalização do tónus muscular do diafragma torácico, a reprogramação da musculatura da parede ântero-lateral do abdómen e do pavimento pélvico, sendo o sistema de treino Low Pressure Fitness® muito adequado para esta fase, que tem sido profundamente marcada por uma excessiva pressão social para perda de massa corporal, conduzindo a treinos que podem não ser adequados e até potenciar o risco de disfunções do pavimento pélvico ( ex: incontinência urinária e os prolapsos dos órgãos pélvicos) e o aumento da distância inter-retos. Treinar sim, mas com segurança!

Bibliografia

1 - Vincenzo Berghella; Gabriele Saccone. (2017). Exercise in pregnancy (editorials). American Journal of obstetrics & Gynecology, 216 (4);

2 - Direção-Geral da Saúde. (2016). Estratégia Nacional para a Promoção da Atividade Física, Saúde e Bem-Estar. Lisboa;

3 - Direção-Geral da Saúde. (2015). Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco. Lisboa;

4 - American College of Obstetricians and Gynecologists. (2015). Physical activity and exercise during pregnancy and the postpartum period: Committee Opinion No. 650. Obstet Gynecol ;126:e135-42;

5 - National Institute for Health and Clinical Excellence; National Collaborating Centre for Women’s and Children’s Health. Antenatal Care. [Online]. ( 2014). London: RCOG Press;

6 - Magro Malosso, Elena & Saccone, Gabriele & Di Tommaso, Mariarosaria & Roman, Amanda & Berghella, Vincenzo. (2017). Exercise during pregnancy and risk of gestational hypertensive disorders: A systematic review and meta-analysis. Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica, 10.1111/aogs.13151;

7 - D. Di Mascio, E. R. Magro-Malosso, G. Saccone, G. D. Marhe- a, and V. Berghella.( 2016). “Exercise during pregnancy in normal- weight women and risk of preterm birth: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials,” American Journal of Obstetrics and Gynecology;

8 - Chen Wang, Yumei Wei, Xiaoming Zhang, Yue Zhang, Qianqian Xu, Yiying Sun, Shiping Su, Li Zhang, Chunhong Liu, Yaru Feng, Chong Shou, Kym J. Guelfi, John P. Newnham, Huixia Yang, ( 2017).A randomized clinical trial of exercise during pregnancy to prevent gestational diabetes mellitus and improve pregnancy outcome in overweight and obese pregnant women,  American Journal of Obstetrics and Gynecology, Volume 216, Issue 4,Pages 340-351, ISSN 0002-9378