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A atividade física é como uma mulher exigente

Definitivamente, a atividade física é uma mulher muito exigente, ou melhor, é uma mulher. Gastar palavras para juntar mulher com exigente é desnecessário.

A atividade física, como toda a mulher, quer sempre relacionamentos duradouros; não se deixa "ficar", exige seriedade e muita dedicação do companheiro.

Não pode ser um relacionamento fortuito, não pode ser só de vez em quando, tem que ser com dedicação total.

Não precisa de ser todos os dias, mas precisa de ser sistemático: os encontros não precisam de ser longos (ultimamente até aceita apenas alguns minutos por dia), mas não pense que isso significa aliviar, nada disso. Ela é tão sábia que permite essa flexibilidade, como se fosse uma licença para os fracos conseguirem persistir.

E o que ela nos dá em troca?

Tanta exigência num mundo cheio de seduções precisa de ter uma compensação muito grande, certo? E tem. Ui se tem!

Ela, como mulher que recebe dedicação e lealdade, é generosa.

Convivendo com ela, nas suas regras, na sua exigência, no seu acolhimento, o leitor terá os melhores dias da sua vida e a sua vida será maior. Sim, nada daquela história de que o que é bom dura pouco.

Estando com ela, o bom dura muito.

Invista nesse relacionamento e vai acordar muito mais bem-disposto, vai sentir vontade de se alimentar melhor e os dias parecerão mais bonitos, a autoestima crescerá como um foguete e a paciência e a tolerância aumentarão com as tolices do dia-a-dia. Ainda, desenvolver-se-á o auto controlo, diminuindo o risco de depressão. IMPRESSIONANTE!

Essas ervas-daninhas como gripes e constipações acabam.

Dores no corpo? Só aquelas decorrentes do seu último encontro com ela. E se se entregou plenamente, vai descobrir que essas dores são reconfortantes e desejáveis.

Essa "mulher" pode dar-nos coisas impressionantes, como diminuir a probabilidade de cancro, um intestino mais regular e, pasmemo-nos, há casos em que os neurónios aumentam. FANTÁSTICO!!

E, tem mais, existem muitos tipos dessas mulheres dis-po-ní-veis.

Certamente, imaginava que seriam raras e somente encontradas em casas de famílias tradicionais. Nada disso. Pode encontrá-la até na internet, estabelecendo um relacionamento virtual com ela e com os mesmos benefícios. Ela está no seu bairro, está próxima do seu trabalho, está no clube de que é sócio. Encontra-a, cada dia mais, nas ruas, nas praças e com uma frequência cada vez maior, até no terraço do seu prédio.

Há algumas que podem levar para casa, já no primeiro encontro. É como tirar de uma numa prateleira... SENSACIONAL!!!!!

Boa e disponível em profusão.

Infelizmente, ainda existem MUITAS pessoas que não se renderam a esse amor. No máximo, dedicam-se a uma breve paixão que começa sempre na segunda-feira. Estão tão pouco dispostos a um relacionamento consistente que não aceitam entregar-se a esse amor no dia mais crítico: a sexta-feira. Encontrar-se com ela à sexta-feira é uma demonstração poderosa de compromisso. É como ir conhecer os pais já na segunda semana; é como dar a chave do apartamento no primeiro mês; é como abrir espaço para a sua escova de dentes no armário do quarto-de-banho. Sexta-feira significa alto compromisso. Para algumas pessoas, isso é Inaceitável. Essas pessoas preferem uma vida solitária, com paixões eventuais de verão e, estupidamente, aceitam uma vida sem energia. Rendendo-se ao sedentarismo, à péssima alimentação, ao excesso de peso, ao risco de doenças coronárias, às dores no corpo, ao cansaço interminável e a uma vida de sofrimentos e angústias.

Mas porquê? Como é possível?

São pessoas que não querem ou não conseguem manter um relacionamento estável com essa "mulher", a atividade física. Acham que é muita exigência dela, acham que estamos num tempo em que há muitos mais motivos para ficar voando de flor em flor do que estabelecer um relacionamento sério.

Infelizmente, mais de metade da nossa população mundial pensa desta maneira.

Mesmo eu, que estou a escrever isto e defendo relacionamentos duradouros, sinto-me tentado a perguntar para esta mulher, porquê ela é tão exigente e demora tanto para começar a proporcionar os benefícios mais significativos?

Creio que é por medo de ser enganada. Afinal o seu histórico é de abandonos e frustrações. Incrédulo, como cada vez mais, pessoas comuns criam expectativa de um relacionamento consistente e logo o abandonam. Os médicos recomendam, os artistas e personalidades aderiram, as bancas de jornais estão repletas de revistas com "fórmulas" mágicas. Há programas em horário nobre na televisão que oferecem conselhos, reportagens e alertas. Mesmo assim a maioria desiste. É realmente muito exigente esta “mulher”.

Logo nos primeiros encontros é preciso transpirar para ficar com ela, gastar energia, acelerar o coração, aquecer os músculos, lidar com mudanças bioquímicas grandes, exercitar a perceção do esforço e, apesar disso, persistir.

Persistir é fundamental.

Talvez persistir seja o grande problema. Nós não fomos concebidos para gastar energia mas sim para poupar energia. É muito mais agradável ficar quieto do que colocar o corpo, as células, em deficit de oxigénio. Um Absurdo! Exercitar a NÃO utilização de oxigénio?!?!?!?

A SÉRIO!!!!! Mulher! Você é muito exigente! Esse amor tem tudo para não prosperar. Tem tudo para começar numa segunda-feira e não chegar à sexta-feira. Parece tão cruel que mesmo os que tentam, apesar de todas essas procuras "absurdas", na sua maioria, não ultrapassam a barreira dos três meses e… desistem. Alguns até tentam mais. Mesmo torturados pela pressão da agenda que insiste em gritar aos seus ouvidos de que não há tempo para isso, há quem tente. Fazem esforços, realmente gigantes, e ficam por seis ou oito meses. Mas o diabo do excesso de confortos da vida moderna, o fantasma do livre acesso à comida de péssima qualidade e as vaias vindas dos "solteiros" sedentários fazem tanto ruído aos seus ouvidos que acabam também por desistir.

Bem que poderíamos ter alguns cupidos para ajudar a fortalecer esses relacionamentos, não?! E temos; há muitos cupidos que estudaram durante quatro anos quase tudo para ajudar as pessoas a adaptarem-se ao relacionamento com essa "mulher". Supostamente, durante esses quatro anos foi-lhes oferecido uma farta ferramenta didático-pedagógica para que atuem de maneira eficiente e definitiva na consolidação do relacionamento das pessoas com a "mulher" atividade física. Porém, os resultados têm sido pouco animadores. Parece que esses "cupidos" vieram sem as flechas. Parece que não lhes foi apresentado tudo que deveriam aprender ou o mais grave, durante os quatro anos passaram a ser seletivos na aprendizagem e acabaram por se apaixonar só por alguns conteúdos, ignorarando outros. 

Esperava-se que estivessem preparados para atuar como facilitadores, diligentes e inspiradores, mas infelizmente são ineficientes, incompetentes, irresponsáveis e nem sequer entenderam que o seu papel é o de cupido. Eles acreditam, ingenuamente, que todo mundo está plenamente convencido e preparado para ter um relacionamento consistente, alegre e duradouro com essa "mulher", a atividade física. 

Porque, para estes, é norma gostar de ter relacionamentos duradouros. Não conseguem ver que algumas pessoas têm enormes dificuldades em manter-se a tentar amar essa "mulher". Triste!

E, apesar dessa falta de apoio eficiente por parte dos cupidos, ela continua sempre à procura de um grande amor. Continua ali disposta, incansável, disponível e sedutora. Volta e meia, cuidando-se, vem em forma de uma novidade atraente. Equipa-se de zumba, cross fit, funcional, corrida de rua, sempre a tentar atrair mais gente. E, nessa procura, entrega-se até por baixo preço de uma maneira SMART, aceita fazer parte de um projeto arquitetónico luxuoso. Enfim faz de tudo para estabelecer um relacionamento longo, eficiente, agradável e feliz. Mas... é exigente demais para os padrões de uma pessoa "normal" que é preguiçosa, procrastinadora e seduzida pelos confortos, sabores, cores e compromissos diversos.

Se está a ler este artigo, junte-se a mim nesta luta árdua de tentar aproximar esses dois mundos: aproximar as pessoas normais e a ATIVIDADE FÍSICA REGULAR.

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